Nessa segunda aula, começam a serem abordadas as escolas de pensamento grego. Iniciando pelos pitagóricos, que tinham como objetivo de “salvação”, de boa vida, o aperfeiçoamento. Tal aperfeiçoamento se dá pelo acúmulo de conhecimentos lógicos como matemática e física. Todo mundo lembra dos catetos e da hipotenusa, né?!
A Escola Pitagórica é marcada pelo racionalismo e uma série de fórmulas de purificação mental. Sendo assim, a ética, nesse momento, se mostra como o processo pelo qual nos purificamos daquilo que consideramos impuro através daquilo que acreditamos nos poluir. Nesse momento, o autoaperfeiçoamento do intelecto caracteriza a ignorância como a poluição do ser. Mas destaca-se que, ao mesmo tempo, isso não contempla os aspectos emocionais. Esse é um fator que me incomoda bastante porque, até hoje, temos como herança desse pensamento a desvalorização da educação emocional e falta de incentivo no mesmo. Constantemente repetimos, principalmente para crianças, ideias de controle emocional e supervalorizamos suas notas no sistema educacional — na minha opinião, deficiente. Enquanto isso, jovens com habilidades empáticas, artísticas, musicais, são deixados de lado pela falta de investimento precoce. Mesmo que para os pitagóricos, a ética da sua purificação se dê pelo intelecto, o ponto importante — além do “pelo que” — é o “para que”. E o “para que” é sentir-me tranquilo, em paz. Mas em paz com o que? Aí depende? Mas quando chegarmos em Sócrates vamos ter um contraponto para essa discussão.
Parmênides, um outro pré-socrático, advoga com o Princípio da Identidade que “o que é, é. E o que não é, não é”. O que significa que uma coisa que é, não se confunde com nenhuma outra coisa. O ser, portanto, é imutável, não podendo se transformar em outra coisa, pois essa outra coisa é um “não ser”, do ponto de vista do que temos como ser. Esse princípio se refere à essência das coisas como sendo a unidade fundamental de algo. Mesmo que haja diversidade, dentro de algo, como a humanidade, por exemplo, existe um fator ou essência comum que caracteriza todos os seres humanos. Portanto, a sua diversidade seria uma ilusão que encobre a sua essência. Tudo isso com o objetivo de reduzir a complexidade do plural à simplicidade da unidade. Isso ainda é um pensamento atual, já que a eficiência se potencializa quando reduzimos o esforço de lidar com uma coisa de cada vez. A medicina necessita disso para produzir remédios eficientes. Já um sistema educacional que contemple cada vez menos a diversidade, diminui sua taxa de sucesso significativamente. Lembram dos talentos que não fazem parte do enquadre intelectual? Pois bem. Isso explica a ausência de autorrealização de um contingente significativo de indivíduos que se obrigaram ao enquadre em subsistemas já estabelecidos, mas fora do seu talento e vocação. Com isso temos a reflexão: É ético rejeitar-se?

Chegando em Sócrates, temos a história do filósofo que incomodou Atenas ao ponto de ser condenado à morte. Entretanto, seu julgamento não foi emocionalmente aceito pelo povo ateniense, provocando um mal estar geral com o processo. Isso resultou na oferta de sua fuga ou beber cicuta. Sócrates escolheu a cicuta. Sócrates superou o princípio da vida e sobrevivência com algo maior. Um princípio mais valioso que a própria vida. E talvez isso não seja morrer, mas viver em um ideal. Um ideal tão valioso que não há vida fora dele. Podemos entender que, para Sócrates, a ética é o princípio da vida. Aquele que a alimenta e lhe dá sentido, ao mesmo tempo que reconhece os próprios limites para sentir-se bem. Não por imposição de leis, mas pelo estado de saúde e bem estar pessoal.

Me coloquei a pensar se tenho algo assim, um princípio pelo qual morrer. Tenho várias crenças conscientes e algumas ainda inconscientes. Como não morri, além da ética coletiva, da convivência, acredito que minha ética pessoal esteja em constante construção e reconstrução, tendo em vista minha constante mudança de pensamento social, político e econômico. Acredito que todos tenhamos um princípio vital, mas que ele só pode ser confirmado diante da iminência da morte. Espero não colocar essa teoria à prova tão cedo.