Esse texto busca refletir sobre a nona aula do Curso de Ética, ministrado pelo professor Clóvis de Barros Filho. Nesta aula, é abordado o conceito de dignidade moral da filosofia kantiana. Mas primeiro precisamos conceituar dignidade.
Dignidade, segundo o dicionário Aurélio, se refere àquilo que infunde respeito, qualidade daquilo que é nobre, que possui autoridade e valor.
Como é costume no curso, dois conceitos são usados como base de comparação. O grego e o moderno, que tem como seus respectivos representantes Aristóteles e Kant. Esse ponto é importante para definirmos qual influência formou nossos conceitos de valor e dignidade.
Para os gregos, a dignidade moral precisa atender um requisito básico, que é a boa vida. E a boa vida, para os gregos, significa despertar suas virtudes, suas qualidades e habilidades. Você só teve uma boa vida se você descobriu a finalidade da sua presença no mundo para que você serve. Assim como a árvore já existe na semente, você deve investir em autoconhecimento para descobrir o que você faz bem
Já para Kant, a dignidade moral não se encontra nas suas habilidades ou nas suas virtudes. As coisas não são boas ou más para Kant, elas apenas existem. Kant produz seus julgamentos no uso que você faz das coisas. Portanto, a presença ou ausência de dignidade moral está no uso que você fez das suas virtudes, está na boa vontade.
O que isso significa em termos atuais? Se você for um ótimo contador, não importa se você desvia dinheiro da empresa em que trabalha. O fato de você ter descoberto o que você faz bem já satisfaz o conceito de boa vida dos gregos. Porém, Kant exige que, depois de descoberto o seu dom, você o use com boa vontade. Ou, mesmo que você não descubra qual o seu diferencial, que você aja de boa vontade. Nesse caso, como descrito no início do texto, é preciso que sua atitude lhe conceda respeito e valor das pessoas ao redor.
Talvez o melhor exemplo de aplicação desse conceito seja o trabalho. A dignidade da qual fala Kant, é um conceito presente até na Constituição Federal de 1988. É ele que nos confere a qualidade de ser, ao invés de objetos. Porém, sabemos que o mundo comercial não partilha da mesma filosofia. A sua dignidade, do ponto de vista profissional, só estará minimamente assegurada, a partir do momento em que você, aos olhos da sociedade que necessita dos seus serviços, lhe veja como algo além de um meio para um fim. Isso significa que, se não houver distinção das suas habilidades, da sua forma de pensar ou de agir, você se torna tão descartável quanto a máquina de xerox da empresa.
Como é evidenciado nesta aula, a natureza distribui talentos de forma desigual. Isso não é difícil de perceber. É triste, porém realidade. E aqui, o pensamento kantiano nos agracia com um presente para sanar a desigualdade da natureza, uma coisa que nos torna iguais enquanto humanos. A liberdade de escolher o que fazer com nossas diferenças. E dentro desse mundo desigual, é natural que nasçam conceitos de desigualdade. E em uma sociedade capitalista, natural que esses conceitos estejam associados a profissões. Qual é a sua utilidade para o mundo? Em que você contribui? A dignidade associada ao trabalho é uma forma eficaz de mobilização do mundo acadêmico. Já que a dignidade, nesse caso, se encontra em quantos diplomas você possui. Até o momento em que pessoas começam a ganhar muito dinheiro sem ter um diploma. Nessa caso, a dignidade está em quem ganha mais dinheiro. E quando a dignidade está em quanta atenção você recebe, a dignidade está em quantos inscritos o seu canal do Youtube tem.

O conceito de dignidade é o que guia a escolha de profissões o tempo todo. Ninguém desejo um emprego indigno, sem valor. Mas se o trabalho é o que torna útil o ser, há trabalho indigno? Se não há, por que fazemos piadas com certos trabalhos? As referências mudam e o conceito também. Se o conceito de dignidade é tão volátil, quem ou o que o modifica? Será a remuneração de cada um, será a fama de cada um, será a contribuição de cada um?
É difícil falar com certeza já que o valor é subjetivo, depende de quem julga. Mas será que a dignidade está no trabalho? Estará no fim a que o trabalho se destina? Na utilidade pública de alguém? Estará em atender a demanda do mundo ou em satisfazer a própria necessidade de se expressar? A dignidade da vida pode ser resumida ao que produzimos ou ganhamos financeiramente? Valor é e sempre será um conceito emocional. Um julgamento que confere, ou não, satisfação. Acredito que a pergunta mais pertinente seria: O que você é capaz de valorizar todos os dias da sua vida? Se puder responder essa pergunta, acho que você já encontrou aquilo que dignifica você.