E eu… gostava tanto de você

Nem sei porque você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar
Você marcou em minha vida
Viveu morreu na minha história
Chego a ter medo do futuro e da solidão que em minha porta bate

A tão conhecida música de Tim Maia narra uma das experiências psíquicas mais comuns do amor: a desilusão. Mais do que a partida literal da pessoa amada, há a perda da paixão. E perda pode não é uma definição completa da questão, já que o acontecimento a que me refiro é decorrente de ganho da verdadeira intimidade.

A princípio, todo amor é perfeito. Muda-se apenas o tempo de duração do princípio. Este sim, é variável. Depende do comprometimento do casal, mas não na direção de conhecer-se, mas ocultar-se. Ao ocultar-se, abre-se espaço para a projeção, que possui um eterno triângulo amoroso com a expectativa e a idealização. A segunda, filha da fantasia; a primeira, mãe da ansiedade.
Dificilmente será possível atender essas expectativas por um longo tempo. Isso porque a projeção é uma “vida para o outro”, quando o (a) parceiro (a) já tem uma vida em si e para si. A intimidade revela tanto as limitações de nossas vidas para nós, quanto nossas expectativas sobre os (as) parceiros (as) para complementar nossa limitação.

O problema é que isso cansa. E cansa muito. E quando ainda há muitas dependências inconscientes fundamentando o relacionamento, as expectativas que não se realizam são cada vez mais dolorosas. Aí vem a decepção. É como dormir com um conhecido e acordar com um desconhecido. Mas até essa metáfora nos revela que esta percepção é decorrente da nossa falta de intimidade e conhecimento sobre com quem dormimos. Na frustração da descoberta há verdadeira intimidade. A chamada paixão não precisa morrer com o fim da fantasia. É possível se apaixonar a cada dia, por essa nova pessoa que somos e a que namoramos.

Não é tarefa tão simples libertar o ser amado de nos servir e nos compensar. Mas é quando a fantasia se vai, e a saudade e tristeza dão lugar a quem nos segura a mão, é que podemos amar realmente, não fantasiosamente.

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