A Graphic MSP é um projeto que visa dar cara nova aos personagens de Maurício de Souza. Autores e Ilustradores convidados tem a oportunidade de criar histórias com um teor mais profundo do que o que encontramos até então. No caso de Arvorada, o responsável — e sortudo — foi o Orlandeli.

Toda história carece di um lugar pra começá. Nem percisa di muito luxo, i coisa i tar. Pra falá a verdade, quanto mais simpres, mior. Simpricidade traiz crareza. Num dexa as compriquera da vida imbaçá as vista da gente. É um oiar diferente. Donde si vê com os zóio… mais si inxerga com o coração!
Essa é a história di um minino…
…Uma anciã…
…i um ipê-amarelo!

Na época do florescimento do ipê, Vó Dita chama Chico que escolhe ir pra casa ao invés de apreciar o desabrochar da árvore. Ele prefere ir ver as flores amanhã. Mas, no dia seguinte, as flores do ipê se foram, restando apenas seus galhos secos. Chico entende a temporalidade e o aspecto passageiro da vida, prometendo nunca mais perder uma frorada do ipê.

No ano seguinte, Chico se lembra que está chegando o dia do ipê dar flor e corre para a casa da avó para irem juntos até o ipê. Mas Vó Dita desmaia, adoece, e vem o medo da morte. Chico se depara com o aspecto mais atemorizante da temporalidade: a morte.
Diante da iminência da perda, Chico revive toda a sabedoria da avó, principalmente no que diz respeito à filosofia do campo. A compreensão do mundo está intimamente ligada a compreensão da natureza, dos ciclos, das árvores e das tradições que não costumam ter espaço na cidade grande. Um dos aspectos associados à sabedoria do tempo são as histórias, as tradições, os contos.

Arvorada é uma história sobre a sabedoria que existe fora das metrópoles, sobre como a natureza é capaz de ensinar a compreender a vida. Também é sobre o relacionamento com os avós, com os anciãos, com os construtores do mundo em que vivemos. São eles o princípio familiar que tanto amamos e que deu origem aos nossos pais; mas também a representação do que, enquanto jovens e revolucionários, tentamos destruir. Arvorada é uma história de amor entre gerações, sobre o laço frágil que une duas pessoas que, mesmo próximas em espaço, se encontram tão distantes no tempo. Arvorada deve ser lida com amor e cuidado.

Orlandeli nasceu em 1974, na cidade de Bebedouro, interior de São Paulo. Em 2002, lançou a revista Grump, pela Editora Escala e ganhou o troféu HQ Mix de melhor publicação de humor. O autor, que é cartunista, quadrinista, ilustrador e chargista, já teve seu traço em veículos como Folha de S.Paulo, Mundo Estranho, Saúde, Época, Superinteressante e outras. Também foi laureado no 31º Prêmio Abril de Jornalismo, 2006, na categoria Visual – Infografia. E teve três obras contempladas pelo ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo: (Sic), que saiu pela Conrad em 2010; Daruma, lançado em 2016 pela Sesi-SP; e O Sinal.