O valor da ação

Chegamos à quinta parte do curso de ética que se inicia esclarecendo qual é o objeto de estudo da ética. A ética não é o estudo que explica o comportamento. A ética tem como estudo o dever. Como se deve agir, qual o comportamento deveria ter sido realizado. Ou seja, estamos falando de valores que guiam a ideia de comportamento ideal, de virtude. Mas, como vimos anteriormente, o homem virtuoso não aquele que pensa sobre o comportamento ideal, mas aquele que age como pensa ser correto. Mas sabemos que isso nem sempre ocorre. Essa elaboração engloba juízo e para se fazer juízo é necessário um julgamento e todo julgamento tem como objetivo definir dolo. Para psicologia, o resultado dessa discrepância entre o deve agir e ato adotado resultará no adoecimento da psique pela culpa ou vergonha, por exemplo.

Nas teorias consequencialistas, temos o Pragmatismo e o Utilitarismo. A diferenciação básica entre os dois é o pessoal e o coletivo, respectivamente. O pragmatismo busca alcançar o objetivo desejo através do caminho escolhido. Ou seja, satisfazer um desejo. Não há reflexão sobre a consequência além do êxito. O utilitarismo baseia a boa ação na consequência que melhor serve aos envolvidos. No pragmatismo, o valor da consequência está relacionada ao agente, enquanto no utilitarismo, o valor da consequência se define por aqueles que não são os agentes da ação. Um exemplo simples é alguém que precisa de dinheiro. Um pragmatista facilmente venderia um produto de má qualidade ou até inútil, convencendo pessoas a gastarem seu dinheiro com alguém que não precisam. Um utilitarista venderia um produto ou serviço que realmente acredita ser útil na vida das pessoas. Deduzimos disso que o pragmatismo é um teoria egoísta, enquanto o utilitarismo é uma teoria altruísta, já que o pragmatismo não considera os afetados por sua ação além da satisfação do seu desejo.

É claro que poucas coisas são tão simples. Mas telemarketing sem dúvida é uma delas. Pessoas te incomodando no conforto da sua casa para lhe vender algo que você não precisa por causa de um único princípio: bater a meta. Dane-se a utilidade, dane-se o seu almoço, a meta é tudo o que importa. Se eu alcancei a meta, agi bem.
Já a política, me parece o palco do utilitarismo. A casa da formulação do desenvolvimento da sociedade. Quando esse princípio dá lugar a lutas infindáveis, a política morre.

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A discussão que cabe aqui é o quanto do que você faz é pragmatismo e o quanto é utilitarismo. O quanto as coisas que você faz para seu benefício prejudicam os outros? É claro que você não deve negar sua própria satisfação para servir exclusivamente aos outros. Mas até que ponto é aceitável ignorar as consequências que os outros sofrem pelo meu prazer? Kant diria que se sua intenção foi boa, isso é o que importa. Já Maquiavel jogaria na sua cara o resultado e lhe perguntaria se aquilo não é culpa sua. Mas não somos Kant… nem Maquiavel. Mas também não é uma boa ideia ignora-los.

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