Vontade x Desejo

 

O que nos move? Desejo? Vontade? Qual a diferença entre os dois? Por que desejos? Quando algo deixa de ser da ordem do desejo para se tornar da ordem da vontade? Pois bem… vamos filosofar um pouquinho sobre essa oitava aula do Curso de Ética.

A base dessa aula é o pensamento kantiano. Mas, posteriormente, podemos ir além. Kant coloca a vontade como algo superior ao desejo. O desejo seria o pensamento que resulta em uma ação que não passa pelo crivo crítico da razão, como um instinto, um impulso. Já a vontade, seria a elaboração de pensamento e ação, capaz de se sobrepor aos instintos. O desejo seria o instinto de satisfazer uma ausência, enquanto que a vontade seria a elaboração de como lidar com essa ausência além do imediatismo de satisfaze-la, ou administra-la porque ela entra em conflito com outra coisa.

É fácil observar isso na dieta. Normalmente, a dieta exige um esforço, concentração e administração do desejo de comer chocolate, pizza e tudo aquilo que gostamos. Mas, ao invés de sucumbir a isso, mantemos o controle para alcançar o corpo que desejamos, mas que necessita de atitudes não tão prazerosas assim. À isso chamamos de força de vontade. É a palavra que usamos o tempo todo para suplantar aquilo que consideramos fútil, mas, ainda assim, exerce grande influência sobre nós.

O oposição vontade e desejo é uma disputa qualitativa. Qualitativa porque coloca o que só pode ser alcançado pela vontade como algo de maior valor e também maior dificuldade. E por isso vale mais. A maioria das pessoas sucumbiria ao desejo, enquanto aqueles capazes de lidar com seus instintos alcançariam coisas maiores, que necessitam sacrificar o prazer instintivo dos desejos.

Dentro do estudo da ética como caminho para a boa vida, esta estaria ligada à capacidade de desenvolver a vontade e não estar à mercê dos instintos. Um ponto de vista bem cristão, visto que esse também se desenvolveu com o objetivo de sofrer por aquilo que é certo antes de fazer o que considera errado. Mas desenvolver a vontade não é algo tão simples assim. Apesar da diferenciação filosófica entre desejo e vontade, o ato dos dois pode ser desencadeado pela ausência. O desejo, no entanto, pode servir à distração imediata da falta, sem lidar com o vazio existencial por trás dessa ausência. Enquanto a vontade, seria o traçar de um caminho mais consciente e esforçado pelo objetivo que realmente lhe completa, mas se encontra mais distante da sua realidade atual. A vontade, diferente do desejo, tem um teor de longo prazo. Evoca frustração, paciência.

A vida boa, para Kant, é ser capaz de lidar com a frustração da ausência em curto prazo por uma satisfação futura. Acredito que seja mais fácil quando o objeto de desejo e vontade são semelhantes. Por exemplo, deixar de comer um brigadeiro para ganhar uma caixa de bombom. Mas a coisa se torna mais difícil quando você deixa de comer chocolate para ficar com um corpo mais esbelto. Isso porque o gosto de um corpo esbelto não é o mesmo de um chocolate. Partindo de um princípio que esses dois objetos em oposição estão emparelhados em sua escala de valores. Para quem vive na academia, e não sente a menor vontade de comer essas coisas, a coisa é diferente porque aquilo que abandonaram não tem uma posição privilegiada em sua escala de valores pessoais.

Mas como desenvolver a força de vontade e suplantar os desejos instintivos? Simples. Educação emocional. Independente de quantas técnicas de autocontrole forem feitas, nenhum resultado perdura se você não tiver consciência da sua escala de valores pessoais. Daquilo que é prioridade. E isso não é fazer uma lista numerando as coisas que você considera importantes. Essa lista, na verdade, só vai refletir o que você gostaria que fosse mais importante. A sua escala de valores já está construída. E o seu comportamento a denuncia com clareza. As suas prioridades transparecem na sua forma de agir. Educação emocional é refletir acerca do próprio comportamento, encarar a realidade daquilo que tem mais valor para você e, se desejar, a reformular. Mas, inevitavelmente, você vai precisar entender como essas coisas se tornaram tão importantes sem você perceber.

Então, deixem nos comentários o que é, segundo Kant, vontade em vocês. O que vocês trabalham duro para alcançar, dia após dia? E o que vocês sentem a cada passo nessa direção?

1 comentário Adicione o seu

  1. E eu achando que o desejo era mais forte que a vontade… Grande reflexão

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