Oxossi mata o pássaro das feiticeiras

Olófin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, um ritual indispensável no início da colheita, antes do quê, ninguém podia comer desses inhames. Chegado o dia, uma grande multidão reuniu-se no pátio do palácio real. Olofin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o abanavam e espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados para saudá-lo.

As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente, comendo dos novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente um pássaro gigantesco voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do palácio. Esse pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Iyámi Òsòròngà, chamadas também as Eléye, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas utilizavam-nos para realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero tomaram conta da multidão. Decidiram, então, trazer, sucessivamente, Oxotogun, o caçador das vinte flechadas, de Idô; Oxotogí, o caçador das quarenta flechas, de Moré; Oxotadotá, o caçador das cinquenta flechas, de Ilarê, e finalmente Oxotokanxoxô, o açador de uma só flecha, de Iremã.

Os três primeiros, muito seguros de si e um tanto fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o pássaro, apesar do tamanho deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de Oxotokanxoxô, filho único, sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô, que lhe declarou: “Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza”. Ela foi então colocar na estrada uma galinha, que habia sacrificado, abrindo-lhe o petio, como devem ser feitas as oferendas às feiticeiras, e dizendo três vezes: “Que o peito do pássaro receba esta oferenda”. Foi no momento preciso que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o encanto que o protegia, para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha de Oxotokanxoxô que o atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu. Todo mundo começou a dançar e a cantar. “Oxó (Osó) é popular! Oxó é popular! Oxowussi (Òsówusì)! Oxowussi! Oxowussi!

Com o tempo, Òsówusì transformou-se em Òsóòsì.

VERGER, Pierre. Orixás, deuses iorubás na África e no Novo Mundo. 5. ed. Salvador: Corruptio, 1997.

Arte: Ubi Maya
Instagram: @notovitch

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